Pesquisa e pensamento

A grande referência brasileira e precursor da pesquisa e análise sobre as artes circenses foi Júlio do Amaral Gouveia, conhecido na boêmia paulistana dos anos 40 e 50, como Julinho Boas-Maneiras. Amigo dos modernistas de 22, como Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral e Mário de Andrade, em quem se inspirou para se tornar um memorialista do Circo no Brasil. Amante das artes circenses, além de estudioso de sua História, foi reunindo ao longo de sua vida, fotos de artistas e agrupando-os por origem e famílias. Com seu falecimento na década de 80, parte de seu acervo foi doado ao MIS – Museu da Imagem e Som, de São Paulo.
Nos anos 70, liderados por outra apaixonada pelo Circo, a professora Maria Tereza Vargas, um grupo de estudiosos fez levantamento da história e situação dos Circos brasileiros para o acervo do Centro Cultural São Paulo.
A pesquisa, análise, crítica e publicações sobre artes circenses tiveram um impulso e se consolidaram a partir do advento das Escolas de Circo. Pesquisadores apaixonados pela arte, acadêmicos que voltaram seu olhar para o Circo e também pessoas do Circo que se voltaram para o ambiente acadêmico começaram a formar um quadro mais definido de estudiosos do tema.
Esse quadro recebe também forte contribuição das publicações, debates e oficinas, especialmente a partir de Mostras e Festivais de Circo, que começam a acontecer na década de 90, onde artistas e pesquisadores passam a organizar o pensamento brasileiro em torno das artes circenses.
As Escolas de Circo que surgiram contribuíram para estabelecer novas referências pedagógicas no ensino de artes circenses e incentivaram a busca por conhecimento teórico e histórico.
Em 2004, em São Paulo, na Galeria Olido, em São Paulo, é inaugurada a Sala Piolin, que reúne diversos coletivos de Circo, associações, cooperativas e grupos de estudos. E em 2006, o local passou a ser o Centro de Memória do Circo. Para quem quer conhecer mais das artes circenses o Centro oferece com muitas informações, produção de material, revistas, livros, documentários e uma exposição permanente. Em local histórico da cidade, o Largo do Paissandu, onde se instalava o Circo de Alcebíades e Piolin que, durante décadas, foi o ponto de encontro de circenses de todo o Brasil.
São muitos pesquisadores e estudiosos que contribuem hoje para a formulação de um pensamento organizado, histórico e crítico da linguagem, produzindo livros fundamentais para o conhecimento da arte circense. Nomes como Alexandre Mate, Alice Viveiros de Castro, Ermínia Silva, Marcos Bortoletto, Mário Bolognese, Regina Horta Duarte e Veronica Tamaoki, entre outros, abriram caminho para novas e importantes contribuições que podem devolver ao Circo Brasileiro o prestígio intelectual que tanto merece e impulsionar sua valorização, conhecimento, visão crítica e saberes.
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Muitos dos textos deste catálogo virtual escritos pelo palhaço Hugo Possolo, dos Parlapatões, curador da Exposição Mundo Circo, se baseiam em sua pesquisa histórica, teórica e de análise sobre artes circenses pautada nos saberes de todos os autores aqui citados.